Traição: perdoar ou não?
Por que é tão difícil perdoar uma traição? É possível ou não recomeçar?
Entrevista com © Dra Olga Tessari
Perdoar ou não?
A traição é um assunto que sempre levanta polêmica e assusta quem ama, por ter o poder de transformar a vida do casal em um verdadeiro pesadelo.
Foi o que aconteceu com a química Marta*, de 32 anos. Ela conta que, 2 anos após o casamento e com um filho pequeno, flagrou o marido e a irmã dela namorando na sala de casa. “Fiquei chocada, fora de mim. Eles ainda tiveram a coragem de dizer que não era nada daquilo, que eu estava louca. Após muito insistir acabei arrancando a confissão do meu marido.
Resolvi seguir com o casamento, porque o amava muito, porém disposta a dar o troco.” A traição foi seguida por várias outras, das duas partes. “Eu me sentia vingada, mas isso não acabava com o vazio e a mágoa que tinha dele. A cada briga, tudo era posto novamente”, lembra.
Para justificar as sucessivas escapadas, o marido de Marta jogava a culpa no instinto masculino: “Ele me dizia que me amava e que tinha me traído porque os homens traem mesmo. E que, no meu caso, eu poderia ter evitado por ser mulher.
Apesar de existirem homens que se dizem naturalmente poligâmicos, eles não são a maioria: “A grande parcela dos homens que traem fazem isso em função de uma crise pessoal ou no casamento. Já a mulher diz trair invariavelmente por vingança ou carência”
Quando a traição é descoberta…
Para a psicóloga Olga Tessari, um passo muito difícil a ser tomado quando a traição é descoberta é tentar entender a própria parcela de culpa. “O mundo cai e a tendência é que a pessoa traída se vitimize, ache que o outro é um crápula e esqueça que, se a relação não está bem, ela também precisa reavaliar sua conduta.”
Recentemente, um dos maiores jogadores de golfe da história, o norte-americano Tiger Woods, viu sua vida desmoronar após confessar publicamente diversos casos extraconjugais. Woods perdeu importantes patrocínios, a mulher dele, Elin Nordegren, chegou a sair de casa e ele ficou com a imagem – até então impecável – totalmente abalada.
O atleta se desculpou publicamente, dizendo que tinha compulsão por sexo e se internou em uma clínica de reabilitação. Conquistou o perdão de sua mulher, mas ainda não voltou a jogar e alguns prejuízos em sua vida profissional provavelmente serão irreversíveis.
Menos de duas semanas depois de ganhar o Oscar, a atriz Sandra Bullock ficou sabendo que o marido, com quem estava havia 6 anos, a traiu com uma modelo enquanto ela filmava “Um sonho possível”, pelo qual levou o prêmio. Ela deixou a casa onde moravam.
Outro caso de traição que passou de uma simples crise conjugal foi o da então esposa do lateral Wayne Bridge, do clube inglês Manchester City, a modelo francesa Vanessa Perroncel, com o zagueiro do Chelsea John Terry. Os dois jogadores dividiam os gramados pela seleção inglesa e eram amigos próximos.
Quando o caso veio à tona, Bridge desistiu de participar da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul. Terry, por sua vez, perdeu a braçadeira de capitão da seleção e teve de se esforçar para conquistar o perdão da mulher.
Diálogo
Para não ter de passar pelo sofrimento que uma traição pode causar, a dica dos especialistas aos casais é conversar muito e sempre: “Falar ao outro o que o incomoda e também saber ouvir é essencial para um relacionamento saudável”, adverte Olga Tessari.
“Estabeleçam os limites do relacionamento, acertem o que consideram traição. Porque muitas vezes o que um acredita ser traição não é nada demais para o outro”, acrescenta Rodrigues Jr. E ser feliz, perdoando ou dando um basta, é a primeira regra. “É preciso se respeitar acima de tudo”, finaliza Olga Tessari.
Depoimento
“Eu fui casado duas vezes. Da primeira vez, casei muito novo, aos 19 anos, porque minha namorada, na época com 17, engravidou. Quis ser um cara responsável, cuidar do filho que iria nascer. Mas eu e ela não tínhamos nada em comum. Logo conheci uma garota que começou a me paquerar descaradamente. Me ligava, pedia para me encontrar. Era divertido estar com ela, tínhamos afinidades, gostávamos das mesmas coisas.
Foi a primeira traição. Me sentia mal, mas me apaixonei. Tanto que larguei a mãe do meu filho para ficar com ela. Casei novamente e fiquei 15 anos com essa pessoa. Tivemos mais dois filhos e eu permaneci fiel a ela durante os primeiros anos de nossa união. Em determinado momento, ela não queria mais saber de sexo. E de tanto eu perguntar e insistir, ela me disse para procurar outras mulheres e deixá-la em paz.
Foi o que fiz. Fiquei com várias e depois soube que ela também me traiu diversas vezes, inclusive com amigos nossos. É claro que não deu certo. Depois de tantos anos nos separamos e fui viver a vida de solteiro.
O tempo passou e eu conheci minha atual esposa. Estamos juntos há 5 anos e nunca pensei em traí-la. Nos damos bem, namoramos, conversamos e nos divertimos juntos. Acho que o homem trai quando falta alguma coisa no relacionamento. Mas eu aprendi que o medo de ser descoberto e o ciúme que a traição causa não valem a pena. Se não está bom, o melhor é terminar e cada um ir para o seu lado.”
A arte de perdoar
Não é fácil perdoar. Essa é uma unanimidade entre especialistas e pessoas que já passaram por uma traição.
Mas o que faz com que alguns perdoem e outros não? O que é preciso para perdoar?
“Depende do tipo de relação, da história do casal, de como essa traição foi explicada e principalmente da dedicação de ambas as partes em reconstruir o que foi perdido”, explica a psicóloga Olga Tessari. Ela adianta que perdoar não é o mesmo que relevar: “A maioria das pessoas acaba relevando por causa dos filhos, por medo de ficar sozinha ou para não perder o status, mas cultiva a mágoa.
Perdoar é muito mais complexo.” Para a psicóloga Olga Tessari, o perdão pede alguns passos que devem partir das duas partes. O primeiro é a paciência. “O que traiu deve reconquistar e ter paciência com o outro, que passará por um período de vigilância severa. Vai vasculhar telefone, vai tocar no assunto o tempo todo. Quem traiu se irrita, mas precisa entender que a confiança foi quebrada.”
Outro passo muito difícil, porém necessário, é que a pessoa que foi traída ouça a outra parte e tente entender sua parcela de culpa: “Não adianta se vitimizar. No caso da mulher, será que ela não passou a ser mais mãe do que esposa?” Olga Tessari também recomenda, para o casal não chegar ao extremo da traição, muita conversa: “Ao discutir, não fique apenas no papel de acusador. Saber ouvir faz toda a diferença.”
Motivos da deslealdade
Há mais de 20 anos a antropóloga e professora Mirian Goldenberg orienta dezenas de pesquisas nas áreas de gênero, desvio, corpo e sexualidade. Autora de diversos livros, Mirian garante: “Não vivemos as estatísticas. Cada relacionamento tem suas particularidades.”
“Quando estava fazendo meu doutorado, há mais de 20 anos, quis pesquisar mulheres que vivem situações consideradas anormais para a nossa cultura. Então fui atrás das amantes de homens casados. Escrevi meu primeiro livro, “A Outra”, onde falo do sofrimento delas e do que elas querem. Logo depois passei a entrevistar homens que têm amantes. Para entender por que eles vivem uma relação extraconjugal.”
E o que as mulheres querem?
“Elas no fundo querem um companheiro fiel. As casadas, as amantes e as solteiras.”
O que os homens dizem às amantes?
“Dizem que são fiéis, que o casamento não está bem, que vivem uma relação de obrigação, que não têm coragem de se separar.”
Por que eles traem?
“Os homens se classificam como poligâmicos ou monogâmicos. Os que são poligâmicos dizem que é da natureza deles, que é impossível de controlar. Já os monogâmicos, quando traem, vivem uma crise muito grande. Eles não querem trair, mas traem em função de uma crise pessoal ou uma crise do relacionamento.
Todos os homens que eu entrevistei tinham uma vida sexual plena com a mulher. O problema não é o sexo. O problema é o desejo de aventura, de ser admirado, respeitado. Eles querem ter algo que dizem não viver mais no casamento.”
E as esposas sabem, ou fingem não saber?
“Se elas sabem, preferem fingir que não sabem. É muito difícil se separar. O problema não é tanto moral. O problema é: como eu aceito um homem se eu sei que não sou a única? ”
O que acha do estudo que liga traição e QI?
“Não é possível generalizar. Cada um tem seus motivos. Na minha pesquisa, 60% dos homens traem. Será que 60% dos homens têm o QI baixo? Acho que é um problema mais cultural do que do cérebro.” Se 60% traem, o que as mulheres devem fazer? As mulheres devem saber que existem 40% que não traem. Uma das coisas que aprendi nesses 20 anos de pesquisa é que não dá para generalizar.”
Matéria publicada na Folha Universal Ed.938 por Andrea Dip
TP5-566
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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais
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