Namorar o amigo
Namorar o amigo ou é melhor manter a amizade?
Entrevista com Olga Tessari
Amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves, dentro do coração. Assim falava a canção de Milton Nascimento, que realmente foi feliz ao proferir o valor desse tipo de relação – a preciosa amizade. Só que esse negócio de guardar o amigo dentro do peito pode acabar te pegando de surpresa.
Namorar o amigo?
Vai que, ao invés de ficar lá guardadinho, ele de repente se apossa completamente do seu coração? Isso acontece, pode apostar. E aí, se a amizade que ele sente por você também for multicolorida, ótimo! Meio caminho andado para uma relação agradável, com quem você já conhece bem e tem grandes afinidades.
Só que namorar amigo também tem lá suas desvantagens, como, por exemplo, um ter conhecimento de detalhes muito íntimos da vida do outro. Imagina seu namorado saber com quantos caras você já transou!
Ou então você ter plena ciência de que ele é super interessado naquela sua amiga. Tsc, tsc, tsc… Definitivamente, não pega bem; além de ser um prato cheio para a insegurança. Que tal irmos mais a fundo nessa história de namorar amigo?
Amizades que se transformam em amor
Está provado que antigas e despretensiosas amizades são capazes de gerar relacionamentos amorosos pra lá de sólidos. Porque, como se diz, o mundo dá voltas e mais voltas, minha querida – quem ainda não se deu conta disso?
A funcionária pública Viviane C., por exemplo, nunca imaginaria que o velho amigo de trabalho, Rodrigo, seria o parceiro que sonhava encontrar.
“Nossa amizade já tinha mais de dez anos. Sempre nos demos bem. Ele me viu com alguns namorados e eu até fui ao casamento dele! Tudo numa boa, sem maldar nada”, conta Viviane.
Mas nada como um dia após o outro…
“Até que calhou de estarmos sozinhos na mesma época. Ele tinha se separado e nos esbarramos numa noitada. Bebemos um pouco e acabamos ficando pela primeira vez. Desde então, estamos juntos e muito felizes”, revela Viviane, que já está planejando o casamento e acha vantajoso ter sido amiga de Rodrigo antes de ser namorada.
“Eu já sabia o caráter dele, já confiava nele e o admirava profissionalmente. E quanto à relação dele com a ex-mulher, foi ótimo estar próxima e acompanhar o andar da carruagem, pois assim sei que a história deles terminou definitivamente. Isso me deixa tranquila”, afirma Viviane.
Interesse além da amizade
Se interessar por um amigo é mais que natural. Inclusive é sinal de que, na hora de escolher um pretendente, não é somente a aparência que você leva em conta. A química vai surgindo aos poucos, nas situações do dia-a-dia…
Primeiro você se identifica com os papos e ideias dele, passa a admirar algo – ou muita coisa – no seu jeito de ser, cria intimidade, conta tudo que anda acontecendo na sua vida, até que, daqui a pouco, qualquer situaçãozinha é motivo para vocês se encostarem. Pronto, está instaurada a conhecida amizade colorida!
“A gente vivia fazendo carinho um no outro, se abraçando, encostando as mãos, sabe? Isso foi esquentando, esquentando e um dia ficamos. Como já tínhamos enorme carinho, isso acabou virando amor”, conta a professora de inglês Thaíssa Souza, descrevendo como começou o relacionamento dela com um grande amigo do colégio.
Diferentemente de Viviane, Thaíssa acha que a intimidade compartilhada anteriormente com o amigo-namorado prejudicou a relação.
“Sabíamos coisas que namorados não devem saber um do outro, do tipo quais experiências sexuais eu já tinha tido e com quem! E eu sabia, por exemplo, que a ex dele mexia muito com ele, então me mordia de ciúmes. Uma vez achei uma foto dela na gaveta. Foi a maior crise no namoro!”, revela Thaíssa, frisando que tantas informações compartilhadas deixavam a relação muito neurótica.
Outra história que comprova que uma das maiores capacidades do mundo é dar voltas é a de Maria J. e Adriano M., de 54 e 61 anos, respectivamente. Eles se conheceram na juventude, quando ele ainda era marido da irmã do namorado de Maria – ufa! Não entendeu? Então, lê de novo –, na época, com 19 anos.
“Eu adorava ele! Íamos bastante à sua casa, viajávamos juntos, mas nunca o enxerguei como homem. Depois que eu terminei o namoro com o irmão da mulher dele, nos afastamos um pouco. Anos se passaram e, em 98, ele se separou. Eu soube e logo ele me ligou. Pela primeira vez, sem nem ter o visto, senti um interesse enorme, de mulher para homem. Combinamos de nos encontrar e foi ótimo, muito forte”, diz Maria.
Contudo, ela não pôde levar o relacionamento adiante, por não conseguir magoar a ex-mulher de Adriano, que também era sua amiga porque, nesse mesmo ano, a ex-mulher ficou doente e acabou falecendo.
“Não deu um mês e ele me ligou. E estamos aí, namorando. Volta-e-meia a gente se desentende, porque os dois são pirracentos e cheios de traumas. Parece que já sofremos tanto, que qualquer coisa que um faça com o outro afeta muito, cutuca a ferida. Já quase terminamos um monte de vezes e acho que o que segurou a relação foi esse enorme lastro de amizade que temos, o afeto, a confiança. Se tivéssemos nos conhecido por agora, sem dúvida não teríamos superado tantas dificuldades”, conclui Maria.
A psicóloga Olga Tessari acha que um amigo verdadeiro tem todo o potencial para se tornar um grande companheiro. Mas, para isso, a psicóloga faz algumas restrições:
“O amigo que vira namorado pode se tornar um parceiro para a vida toda, desde que se deixem de lado as experiências anteriores que ele viveu quando era somente amigo. Todos queremos saber do passado de nosso companheiro, mas temos que entender que o que ele viveu antes de estar conosco nada tem a ver com o atual relacionamento”, diz Olga e continua:
“Sentir ciúmes do seu passado revela uma insegurança que a pessoa vai ter que resolver se quiser manter a relação. Até porque, alguém inseguro vai ter problemas em qualquer namoro, tendo sido amiga antes ou não”, sentencia a psicóloga.
Pensar 2, 3 vezes …
Tem gente que pensa três vezes antes de ficar com um amigo pelo medo de que, depois de vivida a aventura, a amizade não continue a mesma. Esse cuidado realmente é pertinente. E também acontece bastante de duas pessoas que se davam super bem como amigas, infelizmente não terem o mesmo sucesso no amor.
Olga Tessari explica porque isso acontece: “Numa amizade, é mais comum aceitarmos o outro como ele é. Diferentemente do que acontece num relacionamento amoroso, quando queremos que o namorado ou namorada se comporte exatamente como imaginamos, como idealizamos. É nesse momento que surgem conflitos que antes não existiam”,
É por isso que se sentir no direito de transformar algumas características do seu par, tentando encaixá-lo num modelo ideal para você, quase sempre é furada.
“Conhecer bem uma pessoa é o caminho para um relacionamento dar certo. Mas isso não basta. É importante saber respeitar as diferenças. Desde que se aceitem mutuamente, com seus defeitos e qualidades, ter sido amigo antes de namorar pode ser a garantia de um futuro a dois maravilhoso”, aposta Olga Tessari.
Matéria publicada no site Bolsa de Mulher por Laura Jeunon
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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais