Insatisfação com o corpo
Que mulher não é vaidosa a ponto de querer sempre melhorar algo, reclamar do cabelo, sonhar com seios maiores ou com 3 quilos a menos na balança?
Entrevista com Olga Tessari
Pequenas imperfeições todas nós temos, e vontade de mudá-las também. Isso é até benéfico, a partir do momento em que se usa essa vontade para melhorar a aparência.
Insatisfação com o corpo pode ser um transtorno
Mas quando a insatisfação cresce a ponto de trazer infelicidade e tomar muito espaço na vida pessoal, chegando a afetar a rotina, é sinal que algo não vai bem. Isso é um sintoma do TDC, transtorno dismórfico corporal, um mal que normalmente surge na adolescência e pode se estender pela vida adulta.
“O TDC é um transtorno mental que tem como característica principal a percepção equivocada que a pessoa tem de sua própria imagem corporal, vendo “defeitos” em determinadas partes do corpo e preocupando-se em demasia com pequenos detalhes que passam desapercebidos aos olhos das outras pessoas, tais como nariz torto, imperfeições na pele, orelhas com tamanhos diferentes, narinas um pouco abertas, etc.”, explica a psicóloga e psicoterapeuta OlgaTessari.
Segundo Olga Tessari, a preocupação com tais “defeitos” é exagerada, distorcida e pode até ser totalmente falsa. Isso leva a pessoa que sofre deste mal a ter uma reação muito exagerada a respeito, acarretando prejuízos nas relações pessoais, familiares, sociais e profissionais.
Esses prejuízos acontecem porque quem sofre de TDC passa tanto tempo se preocupando com a aparência, que acaba deixando outros afazeres de lado. São minutos e até horas checando o corpo, comparando-se com outras pessoas, e tentando camuflar defeitos inexistentes, o que gera um estado constante de preocupação e ansiedade.
“Já cheguei atrasada a compromissos importantes como provas e entrevistas, porque cismava que a minha pele do rosto era muito feia devido à acne e perdia um tempo enorme me maquiando”, conta a estudante de Administração R.L., de 24 anos.
“No dia em que faltei a um processo seletivo de estágio porque achava que meu rosto estava horrível, chorei tanto que minha mãe me convenceu a procurar um tratamento psicológico”, disse R.L..
Plásticas não atenuam a insatisfação com o corpo
O Brasil é o segundo país do mundo em número de cirurgias plásticas, atrás apenas dos Estados Unidos. Só neste ano, estima-se que serão feitas 800 mil lipoaspirações. Esse é um dos procedimentos procurados por quem sofre de TDC.
“É comum escutar de algumas pacientes que elas poderiam ter lipoaspirado um pouco mais, colocado um implante mamário maior e retirado um pouco mais de pele da barriga”, diz o cirurgião plástico Gustavo Merheb, do Espaço Merheb, no Rio de Janeiro.
O médico conta que são muitos os casos de mulheres que não têm o que retocar e o procuram para fazer plástica.
“Há pacientes que realmente não precisam de cirurgia. O melhor a fazer em casos absurdos é não operar porque a insatisfação será eterna”, defende o médico.
Ele ainda lembra que há quem descarregue todas as frustrações em algum aspecto do corpo e ache que mudar fisicamente irá resolver a vida. Resolvida a insatisfação física e mantida a insatisfação emocional, a paciente se vê de novo na roda-viva do vazio existencial.
Meheb acredita que a cirurgia plástica pode servir de estímulo inicial para uma vida mais saudável, e não deve ser uma bengala para garantir a satisfação da paciente com todos os aspectos de sua vida.
“Buscar a beleza por meio de cirurgias plásticas é válido como ponto de partida para adoção de hábitos saudáveis e para a melhoria da autoestima”, explica ele.
TDC pode gerar até depressão e fobia social
A preocupação demasiada com a aparência pode levar quem sofre de transtorno dismórfico corporal à depressão e, em casos extremos, evitar o convívio social. Tudo porque a pessoa pensa que todos estão observando seu “defeito”.
“A vida fica afetada e torna-se limitada como um todo pelo fato da pessoa viver em função deste seu problema imaginário”, explica a psicóloga Olga Tessari.
De acordo com a psicóloga Catarina Wolff, ambos os sexos podem ser afetados. “É relativamente mais comum aparecer este transtorno em pessoas que apresentam depressão, fobia social, transtorno obsessivo compulsivo e que procuram muito a cirurgia plástica e dermatologistas”, afirma ela.
Segundo o cirurgião plástico Gustavo Merheb, o médico deve ter muito critério ao receber pacientes e também valorizar sua parte emocional.
“O ideal é que a paciente chegue ao consultório certa do que quer para que o médico possa orientá-la e tirar dúvidas quanto às técnicas, expondo as possibilidades reais de tratamento existentes. Deve-se estar atento aos pedidos dos pacientes, aos seus sonhos e aspirações, mas sem criar falsas expectativas”, esclarece Merheb.
Tratamento
“O tratamento indicado é a psicoterapia realizada com um(a) psicólogo(a), que atua na modificação dos pensamentos negativos e distorcidos, assim como com as crenças irracionais sobre a aparência física. Muitas vezes é necessária a medicação para aliviar os sintomas da ansiedade”, disse Olga Tessari.
Mas até procurar tratamento, os portadores de TDC passam por um longo e doloroso caminho.
“Pessoas que sofrem com a insatisfação com o corpo, que apresentam TDC, procuram ajuda psicológica somente quando experimentam sintomas de depressão, autoestima diminuída, isolamento social, obsessões e compulsões, mesmo assim só depois de muito sofrimento e só depois de buscarem, em vão, soluções mágicas para resolver seu “defeito”, como as cirurgias, e chegam a mim por indicação dos médicos que se negam a fazê-las”, afirma Olga Tessari.
Segundo a psicóloga, a atividade física é importantíssima para aliviar o estresse provocado pela tensão acumulada. A medicação se faz necessária quando o nível de ansiedade for elevado e provocar sintomas físicos tais como taquicardia, suores, tremores, falta de ar, etc.
“O tratamento pode ser longo, e deve ser mantido pelo tempo necessário e indicado pelo psicólogo e médico, pois são comuns as recaídas – conclui a psicóloga Olga Tessari.
Consultoria
Olga Tessari – Psicóloga e Psicoterapeuta – www.ajudaemocional.com
Gustavo Merheb – Cirurgião plástico – Tel: (21) 2486-3611 / 2491-4884
Catarina Wolff – Psicóloga – Tel: (11) 3062-3591
Matéria publicada no site Feminíssima de Luiza Brunet em Agosto/2005
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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais