Independência já – Morar sozinho
Saiba como encontrar o cantinho ideal para alugar ou comprar e se virar com orçamentos e tempos de solidão para ter a independência já!
Entrevista com © Dra Olga Tessari
Independência já! Morar sozinho
Morar sozinho é o sonho de muita gente, seja para mudar de cidade (e estudar ou trabalhar), assim como sair da pressão dos pais e ter independência já.
Antes de dar seu grito de liberdade e partir para a independência já numa ”carreira” solo de moradia, é importante ter alguns verbos em mente: calcular, planejar, organizar, administrar, economizar, trabalhar e amadurecer.
As vantagens, em ter privacidade, deixar tudo como bem entender, chegar e sair a hora que der vontade e se virar para aprender, podem não ter preço – se pensadas isoladamente. Mas, geram despesas mensais de alto custo e, às vezes, stress.
Motivos para morar sozinho
Para a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, autora do livro Dirija a sua vida sem medo (2005), vários motivos levam uma pessoa a querer sair de casa.
”Morar sozinho é a chance de ter seu próprio espaço, com independência e individualidade, de aprender a lidar com situações conflitantes, melhorar a autoestima e crescer. Contudo, para saber a hora certa de tomar tal iniciativa é preciso pensar mais além: depois de passada a euforia das novas conquistas, o que se terá a perder no dia-a-dia?”, indaga a Dra. Olga Tessari.
Tempo com arrumações, momentos sozinhos e pouco dinheiro restante para viagens, saídas e compras são alguns exemplos.
Segundo ela, o laço de dependência tido com os pais também interfere bastante na quebra de vínculos.
”Pais super protetores não criam o filho para o mundo, fazem tudo por eles, pagam todas as contas e, na hora em que esses jovens precisam sair para morar sozinhos, eles não conseguem lidar com as responsabilidades, que vão de lavar a louça a pagar contas, e acabam sofrendo”, revela a psicóloga.
Mas o ideal é se desprender e assumir as dificuldades para amadurecer.
Exemplo
O ator de Malhação Micael Borges, de 20 anos, resolveu recentemente morar sozinho para ter mais privacidade. Nesses últimos dias, ele ainda está em transição da casa dos pais para a dele, no Rio de Janeiro mesmo.
“Vi muitos amigos assumindo essa responsabilidade e decidi que chegou a minha hora. Continuarei perto da minha família e a mudança não irá nos separar. Acredito que vai acabar sendo a extensão da casa deles, mas eu tenho o meu cantinho, organizado como quero”, explica ele animado.
Micael tem consciência da responsabilidade que vem junto ao dar esse passo enorme. Sabe que terá todas as contas para pagar e que não pode “dar mole”.
“Outra coisa que estou aprendendo é fazer as compras, pensando em tudo mesmo, não ir ao mercado para comprar apenas aquilo que gosto, mas, sim, o que preciso… E isso vai de produto de limpeza até o escorredor de macarrão”, diz.
Gastos – que não são poucos
Fazer contas e avaliar a situação financeira é um passo determinante.
“Quem ganha um montante por mês deve lembrar que, tendo sua própria casa, não contará mais com esse total para gastar”, alerta o consultor financeiro da IGF, em São Paulo, Alexandre Lignos.
Para ele, o mais importante nessa etapa de vida é “sair seguro financeiramente da casa dos pais, pois o regresso é, normalmente, complicado e pode gerar frustrações, perdas e tristezas.”
Além dos gastos principais, com condomínio (apartamento) ou manutenção (casa), aluguel ou financiamento e IPTU, muitas outras contas menores – somadas – podem assustar no final do mês: água, luz, telefone, internet, gás, TV a cabo, supermercado, comida diária e faxina.
Fora isso, despesas com móveis, reformas, equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos e utensílios, além de reparos e imprevistos, não são nada baratos.
“É muito comum a pessoa mudar, ficar empolgada em arrumar o seu espaço e comprar uma coisa aqui outra ali, financiando tudo.
O que acontece? A fatura do cartão chega, os cheques são descontados e a pessoa entra em dívidas perigosas – considerando que outros gastos, como pessoais, de transporte e de lazer, não terminam”, alerta Alexandre.
Pelas orientações do consultor, o cálculo que todo mundo deveria fazer é: destinar para a sua casa não mais de 30% do seu salário líquido e fazer um caixa com seis meses das despesas fixas com habitação, adicionando, sobre isso, 25% para imprevistos.
“Isso tudo além de ter um fundo de reserva, recomendado a todo mundo, independente de morar ou não sozinho”, diz ele. Se a pessoa ganha R$ 2 mil, não mais de R$ 600 devem ir para a casa. E, de caixa, deve-se ter R$ 4.500 (R$ 600 x 6 + 25%) guardados para imprevistos.
É preciso abrir mão, mas tem o lado bom
Morar sozinha era um desejo antigo da atriz carioca, de 25 anos, Cacau Melo – a Deva, de Caminho das Índias. Há dois anos, quando foi trabalhar na novela Amigas e Rivais, do SBT, em São Paulo, pôde ter sua primeira experiência.
“Foi ótimo. Morar só significa crescer, em todos os aspectos. É a conquista da liberdade e a afirmação de que você está preparado para encarar o mundo de frente”, revela ela. No entanto, lidar com as despesas é tarefa árdua. Exige organização e uma série de concessões.
“Não dá pra fazer tudo o que se quer. Aquele vestido lindo que você está paquerando há meses equivale a três contas da casa. Há de pesar e pensar o que é necessário e o que é supérfluo”, diz Cacau.
A mãe de Cacau é contadora e sempre a ensinou a ter uma pastinha para cada coisa e guardar todas as contas de forma organizada, para não se perder. “Ela montou um arquivo para me ajudar e, às vezes, ainda me liga para perguntar se eu paguei tudo em dia. Para mim, que sou uma pisciana avoada, é ótimo”, diverte-se.
Mas as partes boas de morar sozinho compensam. “Amo decoração, e o pensar em cada cantinho da casa com carinho para poder criar. A minha casa é a minha cara. Minhas amigas dizem que gostam de vir aqui porque parece ‘casa de vó’: têm sempre um cheirinho de bolo, de café fresco e uma musiquinha gostosa pra relaxar”, conta a atriz.
Próprio ou alugado?
Visto ser possível arcar com todas as despesas geradas, a próxima etapa é escolher o tipo (casa ou apartamento), o local e a condição do imóvel: próprio ou alugado?
“Se a pessoa vai mudar para um bairro que não conhece, para outra cidade ou o motivo da mudança é de caráter imediato, costumo indicar o aluguel, antes de um imóvel definitivo”, diz Alexandre Lignos.
Segundo o consultor, em um primeiro momento, essa atitude pode parecer mais cara, mas não é. Isso porque você não conhece a redondeza, o vizinho, os problemas do prédio ou da casa. Alugar é uma forma de se adaptar (ou não) com a vida cotidiana do local e todos os problemas do entorno, como trânsito, feiras, festas anuais e falta de segurança.
“Comprar é fácil, mas vender pode ser um tormento”, revela o consultor.
O diretor do site Imóvel Web, Gustavo Guedes, vai além. “Às vezes, é interessante pensar ainda em flats como opção provisória de aluguel. Isso porque o contrato com esse tipo de imóvel pode ser feito mês a mês, e não a longo prazo como o aluguel, que geralmente vai de seis meses a um ano”, explica.
Casa? Apartamento?
Entre casa e apartamento vai de gosto e prioridades. Só não se deve achar que, por morar em casa, evitam-se as despesas com condomínio. ”Os custos com manutenção de uma casa, quando necessária, são altos – o que acaba se igualando”, lembra o consultor financeiro.
Para Gustavo Guedes, o montante financeiro disponível limita a escolha, por isso, algumas prioridades devem estar bem definidas. “O que é mais importante: morar perto do trabalho/faculdade, e pegar um imóvel menor ou sem vaga de garagem, ou priorizar o espaço e procurar um bairro próximo, mas nem tão valorizado?”, orienta.
Pense em seus hábitos, rotinas e o enfoque que dará ao seu espaço: é para receber amigos ou parentes de fora, trabalhar no local, reunir pessoas para assistir televisão, fazer eventos gastronômicos, ter cachorros de grande porte? Isso também ajuda a estabelecer as prioridades para não se perder com as muitas ofertas.
Em caso de prédios, o perfil e o padrão dos moradores também devem ser considerados.
“Não se pode querer morar em um prédio com pessoas muito mais ricas, pois elas não terão problemas em aumentar despesas com condomínio, e você acabará prejudicado”, afirma o consultor.
Por falar nisso, olhar as contas de condomínio no período de um ano é outra dica interessante. Também escolha um prédio em que barulhos, se você gosta de causar, são mais permitidos, ou, do contrário, que não tenham tantas crianças ou cachorros, se precisa descansar aos finais de semana.
Entre imóveis novos e usados, o ideal é avaliar todo um contexto: valorização do bairro, condição do vendedor (se precisa vender rápido), espaço interno, ano de construção, instalações elétricas e necessidade de reformas (com o que se gasta muito – e sempre mais do que o orçado).
Dividir com amigo
Chamar um amigo para dividir a casa com você pode ser uma saída. Mas tem ressalvas.
Para a psicóloga Olga Tessari, os prós seriam a companhia, a divisão das despesas e uma ajuda a mais na organização do lar, o que são de grandes valias.
“No entanto, se não forem estabelecidas regras desde o início para as rotinas da casa, como divisão de funções e responsabilidades, dividir o mesmo espaço pode virar um grande fator de estresse. Nenhuma das partes pode sentir que está sendo explorada”, afirma a Dra. Olga Tessari.
Planejar e organizar
Por mais que você tenha um funcionário para ajudar com comida e faxina, muitas vezes será preciso colocar a mão na massa. Aprender a lavar louça, colocar roupa para lavar, passá-las, arrumar a cama e passar um pano úmido será necessário, uma hora ou outra.
Não seja acomodado, deixando sempre a labuta para quem mora com você. E se mora sozinho, então, aí é que é com você mesmo.
Por conta dos dois espetáculos em que está em cartaz em São Paulo (A Garota Número Um e a Comédia dos Erros de Shakespeare), em março deste ano, a atriz Monique Alfradique, 23, nascida em Niterói, no Rio de Janeiro, fez as malas e foi morar sozinha na capital paulista.
Para ela, a grande vantagem em estar só é conseguir obter atenção máxima ao estudar seus textos, ter tempo para ela mesma e, claro, deixar tudo arrumado e organizado do jeito dela – com certeza, uma das metas mais almejadas por aquelas que pensam em ter seu próprio canto.
“O difícil é quando você fica doente, quando tem de se cuidar sozinha ou preparar a comida sempre que estiver com fome”, diz a atriz, que revela que sempre liga para a família quando bate a saudade.
Bicho de estimação
“Você mudou para ter liberdade e compra um bichinho. Pronto, já foi rompida a sua estratégia”, alerta a psicóloga Olga Tessari. “Antes de mais nada”, completa ela, “mude, conheça a sua nova rotina e aí, sim, veja qual tipo de animal se encaixa ao seu estilo de vida”, aconselha.
Não seja egoísta e tenha um cachorro – que precisa de afeto e disponibilidade para passeios – se você não ficar quase nunca na sua casa. “Ter um bichinho é sempre bom, mas escolha aquele que possa interagir conforme a sua rotina, para ele se tornar, de fato, a companhia e o amigo desejado”, conclui a psicóloga.
Dicas
Monique Alfradique – “Faça compras de coisas funcionais: vela, fósforo e frutas, ou aquilo que você gosta, para comer na hora do cansaço – em que não quer preparar nada. Tenha sempre bons livros e filmes disponíveis”
Cacau Melo – “Organize-se e pense em tudo o que virá com a mudança, todos os prós e contras. É realmente muito bom ter um cantinho para chamar de seu, mas a pessoa deve estar certa de que é isso mesmo que deseja. Assumir uma casa não é fácil. Só morando sozinho para entender porque nossas mães brigavam tanto quando abríamos a geladeira (gastando energia) para pensar no que comer”
Micael Borges – “Permita-se mudar e seja feliz. Mas tenha o pé no chão e assuma as responsabilidades. Às vezes parece chato, mas se programar, fazer contas e colocar tudo na ponta do lápis é fundamental. Outra coisa muito importante é saber que se mudar não é se afastar da família”
Morando sozinhos
Reynaldo Gianecchini: Após separar-se da apresentadora Marília Gabriela, o ator mora sozinho em um apartamento em São Paulo e agora tem de cuidar dos serviços domésticos
Selton Mello: Há mais de dez anos o ator mora sozinho em um casarão um tanto isolado no Alto da Gávea, no Rio. Recentemente, confessou ser metódico e cheio de manias.
Eriberto Leão: Mora sozinho em um apartamento na Gávea, no Rio de Janeiro
Esther Dias: A atriz mora, há dois anos, em um prédio de três andares na favela do Vidigal, zona sul do Rio. Na época, a família ficou preocupada, mas diz ela ser um lugar muito agradável.
Giovana Ewbank: A atriz de São Paulo mudou-se para o Rio e mora sozinha em um apartamento na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Matéria publicada na Revista Contigo – Ed Abril em 05/07/2009
Leia mais textos sobre o tema:
Quero morar sozinho
Morar só
Solteiros e sozinhos
Sair de casa
Solidão – lado bom e ruim
Sair da casa dos pais ou não?
Autoestima: o que é?
MS2-481
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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais
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