Idosos e Internet
Para vencer o preconceito de que os idosos não entendem nada de internet e de tecnologia é necessário coragem e paciência
Entrevista com © Dra Olga Tessari
Idosos e Internet – O mundo digital na terceira idade
E-mail, Orkut, Messenger, download. Todas essas palavras são gregas pra você?
Computadores, internet e tecnologias te assustam enquanto seu neto só quer saber de brincar no computador? Muita calma! Nem tudo está perdido. Muita gente que já completou seus meio séculos de vida não tem a mesma facilidade que a criançada de hoje têm ao lidar com o mundo digital.
Mas a comparação não é justa, já que os netos praticamente nascem dentro desse mundo e aprendem desde cedo conviver com a tecnologia.
Isso não impede que o mais velho aprenda se tiver iniciativa e dedicação e que a relação idosos e internet não possa ser muito boa!
Idoso na atualidade
A psicóloga e escritora Olga Tessari confirma que atualmente a terceira idade não é mais sinônima de ociosidade e distanciamento da sociedade.
“Com o aumento da expectativa de vida e da melhoria da saúde, os idosos desejam continuar participando e interagindo ativamente da sociedade. Para isso, é preciso se atualizar e acompanhar as transformações sociais e tecnológicas.” completa Olga Tessari.
A professora de Introdução a Informática da Universidade Aberta para a Maturidade da PUC/SP, Vitória Kachar, explica que cada indivíduo interessado no curso de informática tem suas perspectivas, interesses e desejos.
Além do desejo de se sentir incluído, manter a mente saudável, pesquisar na internet sobre assuntos variados e manter o contato com familiares distantes, a informática possibilita a descoberta de si mesmo ao aprender algo novo e complexo, que os jovens geralmente possuem mais intimidade.
“É um universo diverso de possibilidades que aparece para cada um, sendo uma abertura para novas relações e projeções em sua vida” afirma Kachar.
Aulas de informática
É baseado nessa vontade de pertencer ao mundo digital, ocupar a mente e sentir-se mais jovem, que um grupo da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Bauru e Região (AAPBR) decidiu fazer parte das aulas do curso de informática, que existe na instituição desde 2003.
Carlos Roberto Lhamas, de 67 anos, é um dos alunos que se formou recentemente no módulo básico do curso e confirma que decidiu aprender informática para se incluir socialmente e a interagir com os mais jovens.
“Hoje tudo é baseado na informática, então, senti necessidade de me atualizar. Até meus netos sabiam mexer e eu não; isso me chateava um pouco” desabafa Carlos.
Osni Bueno, de 59 anos, da mesma turma de Carlos, conta que agora sabe usar a internet para mandar e-mail, conversar com os amigos e familiares e fazer pesquisa sobre o seu hobby: jardinagem.
“Sinto que eu precisava fazer esse cursinho e agora que me aposentei surgiu a oportunidade. Além de me integrar à ‘gurizada’, mantenho a cabeça mais ativa, mais esperta, mais leve”, disse Osni.
O desafio digital
A professora da AAPBR, Maria Angélica Frois conta que inicialmente o aluno da terceira idade chega desacreditado diante das dificuldades que pensa ter. Muitos vão à primeira aula apenas para conhecer, sem a certeza de que vão continuar.
“Eles achavam o computador em si algo que não fazia parte de suas vidas. Chegavam com o preconceito de que o computador é pra jovem e que as crianças têm mais facilidade, o que creio ser um engano total, já que a dedicação deles é maior do que de muitos outros” esclarece ela.
A psicóloga Olga Tessari explica que essa resistência inicial ocorre porque tudo o que é novo gera medo, como uma reação de defesa instintiva do ser humano.
“Para superar o receio do novo, é preciso ter paciência para aprender a utilizar a nova tecnologia: professores capacitados podem auxiliar o aluno a superar seu medo e, por que não dizer, o seu preconceito quanto ao uso desta nova tecnologia” reforça Tessari.
Para incentivar o aluno de informática da terceira idade a professora Vitória Kachar acredita ser fundamental a forma como o professor estabelece o vínculo com os alunos.
“É importante constituir um canal de comunicação que possibilite a construção da confiança do aluno em relação ao professor e a sua capacidade para aprender” observa ela.
Além disso, ensinar gradativamente cada conteúdo e não introduzir muitas informações ao mesmo tempo é essencial para não gerar ansiedade e desestimular a continuação das aulas.
Para a professora Maria Angélica o estímulo aos alunos partiu de uma conscientização da importância da informática em suas vidas.
“Pessoas que chegaram sem saber nada – não tinham noção do que era teclado, mouse, internet – hoje conversam sobre assuntos de informática de igual pra igual com qualquer usuário” se orgulha ela.
Ter o próprio computador
Profissionais e alunos são unânimes ao afirmar que passada a resistência inicial descobre-se um mundo novo, de informações e conhecimentos que a internet pode proporcionar além de poder manter contato com pessoas queridas e distantes.
“O aluno da terceira idade começa a dividir e/ou disputar o computador com os outros membros da casa e até se sente estimulado a ter o seu próprio computador” afirma a psicóloga Olga Tessari.
É o caso de Helena Pereira, 66 anos, que se sentia excluída por não saber lidar com computadores, mas agora é uma usuária como qualquer outra da família. “Comprei um Laptop porque na casa da minha irmã onde eu moro, apesar de haver quatro computadores, todo mundo usa e não sobra pra mim” reclama ela.
José Roberto de 67 anos declara que os mais jovens não se preocupam em passar conhecimentos de informática para os mais velhos, mas a ajuda dos colegas de classe foi essencial para seguir em frente.
“A experiência me acrescentou muita coisa. Agente perde o medo da máquina. Perceber que todo mundo ali também têm esse receio faz com que se enfrente o medo e continue” afirma José.
Bons frutos virtuais
Segundo a psicóloga Olga Tessari, a diversidade de usos da internet colabora para que o idoso sinta-se estimulado a aprender cada vez mais, não se sinta excluído e tampouco discriminado por suas limitações.
“Devido à dificuldade de locomoção, fica mais fácil pagar as contas, fazer compras, ver os resultados de exames laboratoriais e saber das notícias sem precisar sair para comprar o jornal” exemplifica a psicóloga.
Além disso, alguns jogos eletrônicos tornam-se um exercício mental que pode ser útil para as pessoas mais velhas que sofrem com perda de memória, demência e problemas visuais, como por exemplo, o programa Brain Age da Nintendo.
Esses jogos estimulam o cérebro, especialmente o córtex pré-frontal, o que ajuda o usuário a aplicar o conhecimento armazenado para as habilidades diárias. O site da Lumosity oferece aos cadastrados sessões diárias de treinamento do cérebro, enquanto outras companhias, como a Posit Science Corp, oferecem programas voltados a aposentados.
Um método pedagógico que a professora Vitória Kachar propõe aos alunos da terceira idade é a produção da escrita no computador voltada para a leitura, com reflexão e o desenvolvimento de textos que resgatam as lembranças, além de partilharem coletivamente as produções individuais.
“Dessa forma o computador torna-se um meio para a criação e integração dos alunos. A partir dessa abordagem foi que surgiu o projeto do site Jornal da Maturidade. Já desenvolvi com os alunos cadernos de receitas, mas poderia ter sido um blog, enfim, cabe descobrir com eles o que preferem”, disse Kachar.
Faça você mesmo
Mesmo com tudo isso você ainda não tomou coragem para aprender mais sobre o mundo digital? Um professor diria a você que se trata mais de preconceito do que dificuldade e que um bom meio de aprender é exercitando o famoso ato de “fuçar” o computador.
Para se familiarizar com o mouse (principal dificuldade inicial) o uso do programa Paint é uma boa opção. Assim você poderá soltar as tensões, se divertir e criar um ambiente lúdico e menos ameaçador.
Para isso, clique no botão iniciar no canto inferior do seu computador, vá a programas, acessórios e clique em Paint. A partir daí é só usar a criatividade para manusear os botões e descobrir que o computador não é aquele bicho de sete cabeças. Divirta-se e Liberte-se!
Idosos e Internet – Glossário Digital
Messenger: programa de troca de mensagens simultâneas
Google: site de pesquisa na internet.
Yahoo: site de e-mails
E-mail: o envio de uma “carta” pela internet
Orkut: site em que os cadastrados podem se comunicar uns com os outros, colocar fotos etc.
Postar: publicar uma mensagem em algum site, blog etc.
Clicar: apertar o botão (geralmente o esquerdo) do mouse, com a seta posicionada em cima de determinado ponto na tela.
Navegador: programa usado para “navegar” na internet. Ex: Internet Explorer, Mozilla Firefox.
Sistema Operacional: Programa(s) que serve de intermediário entre o computador e o usuário. Ex. Windows, Linux.
Download: transferir um arquivo ou programa da Internet para o seu computador
Upload: transferir um arquivo ou programa do seu computador para a Internet
Baixar: fazer um Download.
Deletar: apagar
Entre e confira!
O endereço eletrônico do Jornal da Maturidade é www.pucsp.br/maturidades
O site da psicóloga e escritora Olga Tessari é www.olgatessari.com
Matéria publicada no site da Faac – UNESP por Gabriela Nascimento em novembro/2008
ITEC-3-478
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