Avós na família
Com a expectativa de vida cada vez maior, é comum a convivência entre avós e netos na família.
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Entrevista com Olga Tessari
Avós na família – Longevidade do Ser Humano
Apesar de longevidade ser qualidade de quem vive muito, a palavra traz consigo a lembrança do envelhecer.
Certamente chegará um dia para nós a hora da velhice e se não nos prepararmos, poderemos ser surpreendidos como se fosse isso algo muito difícil de ser enfrentado, um pesado fardo.
O envelhecimento é inexorável, no entanto, há sim grande diferença no modo de envelhecer. Como diz Affonso Romano de Sant`Anna: “Há pessoas que estão envelhecendo mal. Desconfortavelmente. Com uma infelicidade crua na alma. Estão ficando velhas mas não estão ficando sábias”.
Bom mesmo seria então “envelhecer maciamente nunca aos trancos e barrancos, nunca como alguém caindo no abismo e se agarrando nos galhos e pedras. Envelhecer como os vinhos envelhecem. Ficam ali nos limites das suas garrafas, na espessura de seu sabor, na adega do prazer. E vão envelhecendo e ganhando vida, envelhecendo e sendo amados, e, porque velhos, desejados. Os vinhos envelhecem densamente. E dão prazer”.
O envelhecimento populacional é hoje um proeminente fenômeno mundial. Isso significa um crescimento mais elevado da população idosa com relação aos demais grupos etários.
No caso brasileiro, pode ser exemplificado por aumento da participação da população maior de 60 anos no total da população nacional de 4% em 1940, para 9% em 2000.
Além disso, a proporção da população “mais idosa“ isto é, de 80 anos ou mais, também está aumentando, alterando a composição etária dentro do próprio grupo, ou seja, a população considerada idosa também está envelhecendo.
Essas mudanças tornaram-se mais nítidas a partir de 1940, em virtude da melhoria do padrão de vida do brasileiro, associada ao progresso das condições de trabalho, à urbanização e ao incremento das condições gerais de saúde da população.
Atualmente a população brasileira com idade igual ou superior a 60 anos é aproximadamente de 15 milhões de habitantes. A sua participação no total da população nacional dobrou nos últimos 50 anos.
Além disso, a população de idosos está crescendo mais rapidamente que o número de crianças.
Em 1980 eram 16 idosos para cada 100 crianças. Atualmente esta proporção é de 30 por 100. Projeções recentes indicam que esse segmento poderá ser responsável por quase 15% da população brasileira no ano 2020 e apontam uma aproximação, em termos de características, do Brasil aos países europeus.
Se em 1980 a expectativa de vida no Brasil era de 62 anos, hoje é de 71 chegando a 80 nas grandes cidades do Sudeste.
Assim deixamos de ser um país jovem. O Brasil está envelhecendo e, em breve, a população de idosos vai dobrar.
Sobre esse assunto a atriz Fernanda Montenegro em uma reportagem, afirma:
“Só comecei a sentir o processo de envelhecimento depois dos 65 anos. A gente não enxerga tão bem como antes e não se locomove com tanta facilidade. Mas existe o lado bom, que tem a ver com a experiência acumulada. E cada idade tem seu esplendor. A lição que eu aprendi com o envelhecimento foi que as pessoas precisam viver intensamente cada dia da sua vida”, disse a atriz.
Envelhece mal quem não aprende a enfrentar essa circunstância da vida com sabedoria e serenidade.
Como sugerem as autoras no livro Aprender a Envelhecer: “Que cada um ocupe em cada momento da sua vida, com todas as suas consequências, o lugar que lhe cabe. Algo difícil de alcançar, mas que não pode ser adiado. Mais ainda, é necessária uma contínua previsão de futuro. Por isso, devemos desde hoje olhar-nos no espelho do amanhã e aprender a envelhecer”.
O período da velhice é caracterizado por um declínio de certas capacidades. Um período que requer adaptação social, psicológica e física às novas circunstâncias que estão mudadas ou em mudanças.
Se a velhice traz restrições de ordem corporal, em compensação traz consigo agregados momentos de vida enriquecedores. A velhice testemunha tudo: a família que criou; as atividades que desempenhou; as derrotas; as conquistas; os erros; os acertos; as lágrimas e os risos.
Tudo intensamente vivido torna a experiência dessa pessoa inigualável.
Precisamos sim implantar novos valores em relação à velhice. Reconhecer que não é uma idade decrépita, mas enriquecedora. O velho é o produto final dos valores que foi assumindo durante toda uma vida.
Com a longevidade atual a influência da geração dos avós para a educação futura se torna cada vez de maior importância.
O nosso Congresso esse ano tem como tema a Convivência das quatro gerações e reservou esse Grupo de Interesse para discutir e refletir sobre a questão do papel dos avós na família.
Também numa iniciativa da Universidade Católica Portuguesa decorreu nos dias 26 e 27 de novembro de 2004 o I Congresso dos Avós, com o tema “Os Avós como Educadores”. A reflexão incidiu no papel dos avós na educação dos netos.
Na oportunidade a Drª. Sarah Harper, representante da Universidade de Oxford afirmou que: “Estima-se que algumas pessoas possam ser avós por mais da metade das suas vidas”.
A diminuição das taxas de natalidade e mortalidade, o aumento de esperança de vida, o fato das mulheres optarem por casar e ter filhos mais tarde faz com que “o mundo inteiro esteja a ficar mais velho”, mas também com que haja cada vez mais avós e bisavós em plenas capacidades e saúde para terem uma vida ativa e poderem “ser úteis à sua família”.
Na mesma ocasião o Dr. Fernando Negrão, Ministro da Segurança Social sublinhou que “O papel dos avós é determinante para haver mais e melhor família, eu fui neto e sei como foram importantes para mim os meus avós”.
Para que isso se concretize bem algumas condições são necessárias. As relações familiares não se tornam diferentes com a possibilidade de pessoas viverem mais tempo, apenas torna-se complexas devido ao número crescente de pessoas interagindo.
O principal desafio será o de construir comportamentos sadios e empenhar-se em conseguir espaços adequados para todos. Sem dúvida também haverá uma condição elementar para que ocorra uma convivência feliz entre avós e filhos casados: o respeito mútuo.
Torna-se necessário que os filhos respeitem a casa e os costumes de seus pais; que os avós tenham clara a consciência do respeito devido à família nova, criada pelo filho ou pela filha, na qual, além disso, existe uma pessoa – a nora ou o genro – que veio de outro ambiente e que merece por razões óbvias a máxima consideração, o máximo respeito a seu modo de ser e de fazer as coisas.
É preciso preparar-se para receber os novos componentes da família. São atitudes fundamentais de aceitação dos cônjuges de nossos filhos, o respeito e a disposição para o entendimento.
Estar atento à dificuldade que eles enfrentam em adaptar-se a essa nova comunidade, inicialmente estranha, que é a família do marido ou da mulher é abrir reais possibilidades para uma boa convivência. Perigosa é a idéia de supostamente “adotá-los” como um novo filho.
O que eles precisam é de serem reconhecidos na sua identidade de genro ou nora e estimados pelo que representam. Essa atitude é determinante na construção de uma intimidade que favorecerá as relações familiares.
O nascimento de um neto inaugura um novo tipo de relação. Algo de muito especial. Como diz Rachel de Queiroz: “Netos são como heranças: Você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhes caem do céu. É como dizem os ingleses, um ato de Deus”.
Quem os tem, entende quando ela diz: “E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, ele reconhece, sorri e diz: Vó ! Seu coração estala de felicidade, como pão ao forno”.
Avós na família e a relação com os netos
A relação entre avós e netos gera uma troca maravilhosa onde ambos ganham muito. Enquanto os avós ensinam o que sabem da sua experiência de vida e da história da família, os netos os levam a reviver o passado e, assim, elaborá-lo melhor.
Os avós na família geralmente têm mais tempo disponíveis e mesmo que não tenham, possuem mais experiência ao lidar, seja com os pequenos ou os mais velhos. Ao lado dos avós não existem tantas ordens ou obrigações. Mais pacientes e tolerantes, advogados de plantão, quando surge uma bronca, ou mesmo uma briga, confidentes e muitas vezes quebra-galhos.
Nas relações com os netos surge a linguagem do afeto criando-se uma relação de cumplicidade entre as duas gerações. Na casa dos avós pode-se sempre escolher o lanche, repetir a sobremesa e não falta nunca, guardado em um armário o biscoito preferido de cada um. A noite na hora de dormir, há sempre tempo para mais uma história.
Apesar de tantos mimos os avós precisam estar conscientes de sua importância para a formação das crianças. Os avós influenciam no desenvolvimento emocional, cognitivo e social, além de ajudarem na formação de valores dos netos.
Trabalhamos em cima de três questões:
1 – Os avós educam ou deseducam?
2 – Como ficam os avós quando têm que tomar para si a responsabilidade do cuidado e da educação dos netos?
3 – Quais os requisitos necessários para que a ação educativa dos avós aconteça?
Educação dos netos
Em primeiro lugar, a responsabilidade sobre a educação e formação dos filhos recai sobre os pais e não é delegável. São eles que planejam as principais linhas educativas, os hábitos e os valores humanos que desejam transmitir a seus filhos. Certamente os avós podem apoiar essa tarefa, porém nunca devem permitir que lhes repassem essa responsabilidade.
O perigo de que deseduquem os netos existirá quando os avós não souberem limitar perfeitamente as fronteiras entre o mimo razoável – que deixará feliz o neto sem nenhuma complicação – e o mimo que pode ser prejudicial.
Relação avós, filhas e noras
Nas relações entre as avós e suas filhas e às vezes noras, surgem inevitavelmente questões do cuidado com os netos pequenos, as interferências das avós nem sempre são bem-vindas.
Em certos casos é conveniente que conversemos com as avós sobre nossas ideias a respeito da educação das crianças. Podemos seguir ou não seus conselhos, porém é sempre bom escutá-los, e se for oportuno, aceitar sua ajuda e colaboração.
Os pais têm de ver isso como uma vantagem da qual toda a família pode se beneficiar. Isso sim, desde que uns e outros saibam qual o seu lugar: os pais, como principais responsáveis pela educação dos filhos e os avós como colaboradores nesta tarefa, distribuidores de carinho e compreensão.
Permissividade dos avós
Em algumas ocasiões a permissividade e flexibilidade dos avós com seus netos se convertem em um problema para os pais. “Existe até um dito popular, o célebre “Avó é mãe duas vezes” ou “ Avô é pai com açúcar” que reforça essa atitude negativa dos avós.
Nesse jogo, a criança é quem sai perdendo, porque termina ficando com pai e mãe demais e sem avós. Precisamos personalizar nossos relacionamentos. Pais são pais e avós são avós.
A psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, concorda que os avós não podem passar por cima da autoridade dos pais. Ela acredita que não há problema algum se os avós, uma vez ou outra, fazem de tudo para agradar os netos. “Isso não prejudica a formação. Pelo contrário: é importante que as crianças tenham alguém que pode conceder-lhes algum capricho”.
De acordo com Olga Tessari, satisfazer as vontades dos netos também faz bem aos avós. “Eles já foram rígidos na educação dos filhos. Agora, com os netos, se permitem ser mais liberais, o que é muito prazeroso”, diz Olga.
Também pode ocorrer que o contrário, quando os avós são mais rigorosos e exigentes do que os pais. Certamente a solução não será por barreiras ou evitar que os netos se relacionem com os seus avós. Os pais deverão explicar aos avós as normas estabelecidas por eles e procurar conseguir deles o compromisso de respeitá-las.
Há situações em que convivem sob o mesmo teto avós, filhos casados e netos. Ou ainda mesmo vivendo cada família em sua casa, os avós ficam com os netos longo tempo, porque os pais trabalham fora.
Nessa situação e levando em conta que os pais estejam ausentes por grandes períodos não há como evitar uma maior interferência dos avós. O perigo os avós queiram imprimir valores e regras baseados na formação que tiveram ou que deram aos seus filhos.
É provável que muitas vezes os avós contradigam as ordens dos pais que por sua vez terminam impossibilitados de exercer a sua autoridade.
Essa situação termina por desencadear um jogo de poder gerando conflitos na educação que é dada aos netos. As crianças confundem os papéis de pais e o de avós e os adolescentes aproveitam essa brecha para fazerem o que querem. Não é certamente uma tarefa fácil.
Existem situações que por força das circunstâncias os avós não podem vivenciar só o lado prazeroso da relação com as crianças. Apesar disso os avós evidentemente não poderão, mesmo que quisessem ocupar um lugar que não é deles.
Juntos avós e pais deverão buscar soluções que atendam a expectativa de ambos e não prejudique a educação dos filhos. Os pais deverão tomar as medidas apropriadas para evitar deixar toda a responsabilidade educativa nas costas dos avós.
Também é conveniente que conversem com os avós e, em conjunto, estabeleçam alguns pontos básicos do que é permitido e o que é proibido e o papel que cada um desempenha. Sem dúvida, ambos importantes na formação do indivíduo, mas essencialmente diferentes.
Lídia Aratangy e Leonardo Posternak alertam para o “delicado equilíbrio entre estar disponível e não ser invasivo. Os filhos desejam que seus pais sejam fonte de segurança: que apóiem e de preferência aprovem sua postura e ofereçam sua experiência para ampliar e enriquecer o desempenho de seus filhos no novo papel”.
Isso implica em que os avós conheçam os objetivos dos pais e adaptem-se a eles, o que tornará tudo mais fácil. A atuação dos avós deverá reforçar os critérios educativos dos pais sem estabelecer diferenças entre o que estes dizem ou fazem com o que eles, os avós, façam ou digam diante dos netos.
Assim não deverão dizer aos netos que seus pais estão agindo mal, porque isto seria causar-lhes, aos netos, um sério prejuízo.
O que podem, e devem, é dialogar incansavelmente com os pais para que modifiquem sua atitude quando necessário, ainda que isso suponha perder um pouco de tranquilidade. Mas, é preciso evitar o perigo de saltar do diálogo a discussão.
Aos avós cabe entender que as famílias fundadas por seus filhos são diferentes da que eles fundaram. Que seus filhos, noras e genros devem viver sua própria vida familiar, sem interferências, sem intromissões, mas que continuam sendo seus filhos, ainda que sejam pais, porque a responsabilidade paterna ou materna não desaparece enquanto os pais vivam sobre a terra.
Conclusão
A convivência humana representa um grande desafio para todas as gerações. Na vida em família encontram-se as mais variadas, ricas e múltiplas oportunidades para o exercício pleno dessas experiências interindividuais.
A convivência das gerações significará, sempre, analisar atitudes e examinar formas de relacionamento que estarão fortalecidos pelos laços afetivos presentes desde o nascimento dos filhos.
Os avós são testemunhas do passado, guardiões das histórias da família e o elo de ligação das gerações, promovendo o sentimento de existência e unindo o passado ao presente.
É mais uma vez a família que oportuniza isso sendo lugar de encontro das emoções, das forças e vivência do ontem, do hoje e do amanhã.
Matéria publicada no site Escola de Pais por Ceres e Nilton Sampaio em 03/07/2006
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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais