Aceitar o envelhecimento
Aceitar o envelhecimento com naturalidade é o caminho, afirma psicóloga Olga Tessari
Entrevista com Olga Tessari
*as respostas de Olga Tessari estão registradas de acordo com a Lei de Direitos Autorais
Fase é feita de ajustes
A terceira idade é um novo momento na vida do ser humano. Novas atividades, desafios, mudanças drásticas no cotidiano, algumas limitações, se impõem ao idoso que não está acostumado aos novos ajustes desta fase e acaba por enfrentar problemas de convívio e de saúde.
E para falar sobre o tema entrevistamos a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, que trata da importância de todos os idosos serem respeitados, com muita atenção e amor.
Aceitar o envelhecimento é possível
Site Padre Marcelo Rossi – A falta de objetivos é o pior problema para uma pessoa que alcança a terceira idade e que pode até levar a depressão?
Olga Tessari – A falta de objetivos, aliada ao fato da pessoa não ver saída para sua situação atual, pode gerar depressão em qualquer idade. O problema do idoso é que ele, muitas vezes, pensa que não há mais tempo para fazer mais nada em sua vida porque a morte está se aproximando.
Além disso, é comum, por terem mais tempo disponível, pararem para refletir e concluir que deixaram de fazer muitas coisas, que gostariam de ter feito outras tantas e que não há tempo disponível para isso.
É importante que as pessoas tenham objetivos sempre, que realizem seus sonhos e desejos, independente da idade que tem, afinal, como nunca sabemos quando vamos morrer, embora a morte seja a única certeza na vida, temos que continuar com nossos objetivos.
Isso me faz lembrar uma paciente minha que achava que sua vida estava acabada aos 50 anos, que não havia mais tempo para fazer mais nada.
Eu disse a ela que, como ela não sabia quando morreria, poderiam se passar muitos anos até lá e ela poderia chegar aos 80 anos, por exemplo, olhando para trás e dizendo: “ah, passaram-se 30 anos e eu poderia ter feito isso ou aquilo, mas agora não há mais tempo”.
Sempre há tempo para realizarmos o que desejamos e, mesmo que cheguemos à morte e não tenhamos conseguido realizar todos os nossos objetivos, pelo menos tentamos. Ou seja, para evitar a depressão, é importante que tenhamos objetivos sempre e que possamos agir no sentido de executá-los.
Site Pe. Marcelo – A inatividade é outro entrave? Exemplo, uma pessoa que sempre trabalhou, um dia se aposenta e acaba por se desorientar quanto ao que fazer em seu cotidiano de aposentadoria?
Olga Tessari – Uma pessoa que trabalhou a vida toda tem dificuldade em lidar com esta nova realidade. Passada a fase de euforia por chegar à aposentadoria, muitos não sabem o que fazer, pois não pensaram nem planejaram como seria o seu futuro depois que se aposentassem. Muitos deles nem pensaram em como aceitar o envelhecimento.
Com a aposentadoria, muitas mudanças nos costumes e nos hábitos diários acontecem em sua vida, perdem-se os contatos com os amigos de trabalho, de um momento para o outro surge um tempo enorme e ocioso pela frente, o que pode levar à sensação de se sentir inútil por não saber o que fazer com todo o tempo disponível, uma vez que está condicionado a associar trabalho com produtividade e utilidade.
Além disso, por não se sentir mais produtivo, pode supor que tornou-se um estorvo na família, além de imaginar que a sua permanência em casa o dia todo pode alterar a rotina familiar.
Mas aposentar-se pode ser algo muito bom, desde que a pessoa permita-se realizar os seus desejos não satisfeitos ao longo da vida, porque, enquanto trabalhava, estava mais preocupado e voltado para o seu desempenho profissional e o sustento.
Site Pe. Marcelo – Qual o principal desafio para o idoso que chega à terceira idade?
Olga Tessari – Saber lidar com as mudanças nos seus hábitos e na sua rotina. Aceitar o envelhecimento com naturalidade é o caminho, buscando conviver bem com as limitações decorrentes da idade tais como movimentos mais lentos, problemas de memória, diminuição da força muscular, etc., e valorizando aquilo que faz parte exclusiva dos idosos: a larga experiência de toda uma vida que jamais poderia ser deixada de lado.
Site Pe. Marcelo – O convívio com outras pessoas da mesma faixa etária, no caso de idosos solitários, viúvos, pode ser uma boa saída para sua autoestima?
Olga Tessari – É fundamental que os idosos façam parte de grupos com pessoas da sua faixa etária, até porque os hábitos e costumes dos idosos costumam ser muito diferentes das pessoas de outras faixas etárias. Estar com seus pares, fazer parte de um grupo com características semelhantes às suas, eleva a auto estima de qualquer pessoa em qualquer idade e colabora para aceitar o envelhecimento!
Site Pe. Marcelo – Qual deve ser o papel dos parentes dentro desse processo?
Olga Tessari – Parentes muitas vezes costumam ter uma atitude preconceituosa diante do idoso em função das dificuldades típicas desta fase da vida. É importante respeitar os limites impostos pela idade, não exigindo do idoso mais do que ele pode fazer.
Além disso, o idoso tem necessidade de atenção (como todos temos) e os familiares devem se organizar para manterem um contato constante para conversar com ele e ouvi-lo, para entendê-lo e satisfazer as suas necessidades. Pedir a ele que relate suas experiências passadas, que conte histórias da família, que fale sobre aquilo que gosta de falar.
Idosos não devem ser tratados como pessoas inválidas, eles apenas tem mais limites inerentes à idade, portanto, deve-se delegar a eles apenas tarefas que possam ser executadas sem sacrifícios (como cozinhar, se eles gostarem, bordar, fazer um determinado conserto, etc.).
Os idosos adoram se sentir úteis e ficam felizes em poder ajudar ou satisfazer um desejo/necessidade de um parente ou conhecido! A família jamais deve dar a perceber que se incomoda ou que não tem vontade de ajudá-los ou de ouvi-los, pelo contrário, deve agir no sentido de permitir, na medida do possível, a manutenção da autonomia, da independência e da dignidade dos idosos.
Tratá-los com respeito é ensinar às novas gerações como elas devem tratar a si mesmos no futuro (porque, se não morrermos antes, todos nós nos tornaremos idosos).
Site Pe. Marcelo – O que o idoso pode fazer para manter uma vida saudável e bem consigo mesmo?
Olga Tessari – Existe um mito de que a velhice seja uma etapa de restrições, privações e sofrimentos, o que é uma inverdade, pois os idosos podem gozar de bem estar e saúde até o final da vida, tudo vai depender da forma como viveram e como cuidaram de si mesmos ao longo dela.
As doenças podem surgir em qualquer fase da vida, o que ocorre nesta fase são algumas limitações que, se bem administradas, não impedem que o idoso tenha uma vida plena, saudável e feliz.
Cuidar para ter uma alimentação saudável, praticar uma atividade física regular sempre com orientação profissional, fazer um check up médico periódico, manter a atividade sexual, manter o contato com amigos, parentes e afins, procurar ter momentos de lazer constantes, ou seja, cuidar de si mesmo como um todo, ocupando-se com atividades que tragam prazer, alegria e satisfação: todos estes fatores juntos colaboram para uma vida plena, saudável e feliz!
Matéria publicada no site do Padre Marcelo em 21/01/2006 por Rodrigo Herrero
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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais