Vida depois da traição: existe?

A vida depois da traição

Vida depois da traição: existe?

Como lidar com a traição? É possível superar ou não? O que fazer?

Entrevista com © Dra Olga Tessari

A vida depois da traição é possível de existir? Dá pra ser feliz junto?

Infidelidade é um dos sapos mais difíceis de engolir e digerir.

Você tem de descobrir se ainda vale a pena continuar junto ou se é melhor mandar o sujeito passear.

Angelina já foi traída. Sienna também. Uma colocou o marido para correr. Jennifer… bem, você sabe como acabou essa história.

Por outro lado, Elizabeth Taylor, Kate Hudson, Carla Bruni e mais uma lista grande de famosas já andaram pulando a cerca. Seu relacionamento pode até não ilustrar as páginas das revistas de fofoca, mas é certo que só mesmo sendo a criatura mais desapegada do planeta ou a mais cara de pau para continuar uma relação chamuscada.

Ou será que as coisas nem mudaram tanto assim e dá para virar a página e seguir em frente?

Quem trai mais?

Mesmo que as mulheres não possam posar nem de vítimas nem de santinhas, é o homem quem ainda leva a fama de grande “pulador de cerca”, como diziam nossas avós.

Em um livro recém lançado na França — Les Hommes, l’Amour, la Fidélité (Os homens, o amor, a fidelidade) —, uma das mais famosas psicólogas daquele país, Maryse Vaillant, defende que a traição masculina é simplesmente inevitável, uma questão de luta pelo próprio espaço. Segundo ela, seu livro tem o objetivo de “resgatar a infidelidade”, característica natural humana.

Mas será que a traição é codependente da testosterona?

Já se mediu o grau de infidelidade em várias pesquisas. Uma delas foi realizada pela antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e apontou quase um empate técnico entre o número de mulheres e de homens que traem, embora os segundos ainda levem uma ligeira vantagem.

Mirian ouviu 1 279 indivíduos das camadas médias da cidade do Rio e constatou que 60% dos homens e 47% das mulheres afirmam já terem sido infiéis. A tendência de a conta pender para o lado masculino pode ser porque talvez tenham mais coragem de — ou sejam mais incentivados a — assumir. Ou porque realmente ainda traiam mais mesmo do que as mulheres. E por quê?

A traição

Você sabe que o ingrediente que leva uma pessoa à cama de outra ainda é tesão, mas não significa que seja o principal. E, ainda que as mulheres estejam dando seus pulos por aí, os motivos são diferentes dos que levam o homem a trair. Pelo menos é isso que indica o discurso dos que participaram da pesquisa de Goldenberg.

Os homens justificaram suas traições por acreditarem ter uma natureza propensa à infidelidade. Então tá… “Eles dizem trair por instinto, vocação, atração física, vontade, tesão, oportunidade, disponibilidade, galinhagem, hobby, testicocefalia”, relata Mirian.

“Já nas respostas femininas encontrei falta de amor, de romance, de atenção, para levantar a autoestima, vingança, além de um número significativo de mulheres que traem porque não se sentem mais desejadas pelo parceiro.”

Ou seja, segundo a pesquisa de Mirian, as mulheres acreditam que traem porque o marido ou o namorado não correspondem mais às suas expectativas. Deixaram de ser do tipo que ainda manda flores ou preferem uma pelada no campo a uma em casa. O que parece um pouco justo, não?!

Existe vida depois da traição?

Vida, com certeza, existe vida depois da traição. A questão é decidir se a relação continuará sendo a dois ou se cada um partirá para uma carreira solo.

O momento em que a infidelidade é descoberta é como um vulcão soltando lava para todos os lados. Põe-se tudo para fora, há fumaça demais no ar turvando a visão.

“Para o traidor, é no geral um alívio por ser o fim de uma história de mentiras”, diz a psicóloga Olga Tessari, de São Paulo. Já para a pessoa traída, o mais comum são dor e raiva. Algumas se encolhem em seu canto, com a sensação de vítimas, esperando a dor passar. Outras continuam cuspindo lava. O tempo amadurece esses sentimentos. E é disso que vai depender o futuro do relacionamento.

“A traição, inevitavelmente, compromete a qualidade do que se tinha”, diz o psicólogo Ailton Amélio, da Universidade de São Paulo. “E não estou falando apenas de sexo, porque encaro qualquer caso de quebra de confiança como traição, mesmo aqueles que nascem e evoluem apenas pela internet.”

Os psicólogos são praticamente unânimes ao dizer que depois da traição, se o relacionamento continuar, não voltará a ser como antes. O que não quer dizer que será pior.

“Pode até melhorar, dependendo de como o casal vai lidar com o problema”, diz Olga Tessari. Àqueles com mais sorte ou mais habilidade para tratar a situação pode ocorrer uma espécie de upgrade. Um relacionamento que vinha no marasmo da classe econômica em velocidade de cruzeiro passa, com a turbulência, para a classe executiva.

Por que traímos?

Pode até ser gosto pelo perigo, mas, no geral, é sinal de um relacionamento desgastado. Existem dezenas de teorias, muitas delas da época em que vivíamos em bando.

No caso masculino, quanto mais ele puder espalhar seu material genético por aí, mais garante que sua linhagem sobreviva. Pinguins e corujas — fiéis até a morte — estão por fora. Exemplo mesmo são os leões e os gorilas. “As mulheres também teriam interesse biológico em manter a diversidade porque filhos muito homogêneos têm menos chance de sobreviver”, confirma o psicólogo Ailton Amélio.

Mas, pensando bem, já abandonamos vários hábitos da época das cavernas, como disparar em carreira sempre que alguém ruge para nós ou sair de casa com os cabelos desgrenhados. Por que, então, não teríamos abandonado mais esse? Porque, de alguma forma, o perigo e o novo trazem uma sensação agradável.

“A sociedade contribui no sentido de incitar a busca do prazer, enfatiza o novo e valoriza o proibido”, enumera Lana Harari, psicóloga de São Paulo.

Há também motivos que dizem respeito à dinâmica do casal. É bastante comum, depois de certo tempo de relacionamento, o excesso de intimidade tornar os parceiros mais críticos. Um não se furta de apontar o que está errado com o outro e isso vai minando a autoestima do parceiro, que começa a procurar quem o faça sentir-se admirado. Esse excesso de intimidade pode também criar uma sensação de fusão, de que cada um não existe individualmente.

“Então a traição vem de um desejo de recriar espaços pessoais que se perderam ao longo do tempo”, diz Lana. E há até aqueles casos em que o parceiro deseja, inconscientemente, que o outro tenha um caso extraconjugal e acaba baixando a guarda.

Os motivos são vários: para se ver livre da obrigação de ser o parceiro sexual do outro, para pôr fim a um casamento infeliz e até para apimentar o relacionamento sexual, quando o parceiro que trai passa a ser visto como objeto de desejo do outro. Vai entender…

E desde quando somos traidores?

Ao que parece, a traição nasceu no momento em que alguém disse que os relacionamentos tinham de ser monogâmicos. Não dá para precisar quando isso aconteceu. Mas há 900 anos antes de Cristo, a regra para o povo egípcio dizia que o homem devia ter apenas uma mulher, exceto o faraó, liberado para ter um time de fêmeas além da titular. Era um direito, e ela não podia reclamar.

Talvez esse seja o principal colorido da traição no século 21: a mulher não precisa e, geralmente, não quer ficar quieta. “Há cerca de um século, a equação do casamento era 1 + 1 = 1, uma ideia de amor que só funcionava porque a mulher se anulava e era o 0 da relação”, explica Lana Harari. Dentro da matemática moderna, hoje 1 + 1 = 3, porque com o relacionamento forma-se uma terceira entidade, que não é nem a mulher nem o homem, e mantém a individualidade de cada um.

Salvem-se se puderem

Não espere encontrar nenhuma resposta pronta e eficiente nos livros de autoajuda. Mas aqui você encontra algumas dicas para tentar seguir em frente.

“Nunca, nem que o mundo caia sobre mim. Nem se Deus mandar, nem mesmo assim, as pazes contigo eu farei”, cantava Lupicínio Rodrigues. Meio piegas, melodramático. Mas quem é traído costuma sentir uma fúria que, no primeiro momento, parece que não vai aplacar.

O futuro da vida do casal depois da traição

Mas a questão é que, às vezes, se faz a paz. Cada casal tem sua dinâmica e é dela que vai depender o futuro do relacionamento.

Primeiro, é preciso parar e pensar por que você quer continuar junto com a pessoa que a traiu, ou a quem você traiu.

Se a resposta for uma destas abaixo, talvez não haja muito futuro para vocês:

•Sou mais respeitada socialmente estando casada.

• Não me sustento sozinha.

• Tenho que poupar meus filhos.

• Não quero quebrar o vínculo com a família dele.

• Sou uma heroína em continuar levando o meu relacionamento adiante para o bem de todos.

• Tenho medo do que ele possa fazer a mim se propuser o fim do relacionamento.

É lógico que cada um desses itens deve ser colocado na balança, mas a principal pergunta é: ainda existe amor?

Só não seja ingênua a ponto de pensar que apenas deixando o barco navegar tudo vai se resolver. Não dá para fugir. “É preciso conversar muito até entenderem o que aconteceu, reconhecerem os erros, compreenderem a dinâmica psíquica que os levou a essa situação, mudarem de atitude e encerrarem o assunto”, diz Lana Harari.

A situação de vítima do traído é o caminho mais curto para a separação. “Se ocorreu a traição, é bem provável que os dois lados tenham uma forte parcela de culpa”, diz Olga Tessari. O que traiu tem que assumir a sua e a pessoa traída, descobrir o que fez para contribuir.

Em busca de pistas da traição

Vasculhar bolsos, celulares, notebook. Querer dar uma de Sherlock Holmes? O detetive profissional Edilmar Lima, de Brasília, diz quais comportamentos realmente denunciam o infiel.

De repente, ele começa a ter reuniões à noite. Ou compromissos no final do dia com os quais ele “não contava”. Ele troca aquela picanha de domingo para se dedicar a um novo hobby. Individualmente, cada uma dessas coisas pode até ser verdade. Mas, em conjunto, são a fumaça que indica fogo.

O primeiro sinal de infidelidade é a mudança de hábitos.

• Você liga no trabalho dele e a secretária faz um longo e enigmático silêncio antes de dar uma desculpa furada sobre por que ele não pode atender, por que teve de sair.

• Ele começa a dizer que vocês dois precisam de mais espaço e isso não significa comprar uma casa maior ou um carro de quatro portas. Mas uma desculpa para sair sozinho.

• Quem não sabia a diferença entre o Twitter e o Facebook e, de repente, começa a passar horas no computador de madrugada pode estar alimentando um caso virtual.

• Fica vaidoso de repente, começa a frequentar a academia, ir ao dermatologista. Ou ele anda lendo suas revistas e decidiu virar um übersexual, mesmo depois de o termo ter saído de moda, ou aí tem.

• Ele demora para atender o celular e diz que precisa desligar logo, que está no trânsito (desconfie, principalmente, se houver um vácuo de barulho atrás. Trânsito tem buzina, motor).

• Celular é o novo bolso do paletó, denuncia mesmo. Por isso desconfie se ele deixá-lo desligado quando estão juntos. Ou, por outro lado, o aparelho torna-se tão essencial no banho quanto o sabonete.

• Chamegos, docinhos e beijinhos sem motivo aparente. O parceiro ficar carinhoso demais, talvez por sentir culpa pela traição.

Matéria publicada na Revista Womenshealth por Ivonete Lucirio em fevereiro/2010

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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais

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